terça-feira, 27 de dezembro de 2005

Relato de Parto do Elias

Anuncio da nascimento em uma lista de discussão do Yahhogrupos:

"Nasceu essa madrugada, às 2h, o Elias, filho da Raquel de Piracicaba.
Ela não participou muito,pois
estava sem computador em casa.
O parto ia ser em casa, mas por diversas razões eles optaram por vir para São Paulo e o bebê nasceu no Hosp. N. Sra. de Lourdes, de um lindíssimo parto natural, assistido pelo JK e Márcia K.
Para quem entende das questões físicas envolvidas, foi feito um exame de toque no consultório às 19h - estava com 6 cm, contrações a cada 7 minutos.
Internou às 22h, contrações a cada 4 min.
Exame de toque à 1h, 8 cm, bebê alto (-2). Ela pediu anestesia, pelos nossos cálculos ainda faltariam algumas horinhas, pelo menos umas 3, pois o bebê estava muito alto, nem tinha insinuado direito na bacia. A bolsa foi rompida artificialmente, era mais ou menos 1:15h. Antes que o anestesista entrasse na sala, ou seja, 15 minutos depois que a bolsa foi rompida o bebê desceu de -2 para +5. Coroou assim, de repente!!! Ninguém acreditou! Ela fez força e o bebê nasceu em 30 minutos. Chocante, impressionante!!!! Foi um parto muito lindo."



Consulta com o Dr. Carlo Yossef
Até eu estar com 40 semanas de gestação, meu parto seria em minha casa com a Márcia e a Priscila. Meu marido queria que eu continuasse com o medico em vez de fazer o pré-natal com elas, eu não via problema até achava bom por ter um medico por perto caso acorresse algo.

Estava previsto para dia 11 de dezembro. Na consulta do dia 12, com 40 semanas e 1 dia, o médico falou que achava que o bebê ia entrar em sofrimento se já não estivesse, que ele não costumava errar e algo dizia para ela tirar o bebê de lá, que o bebê estava alto e minhas chances de parto normal eram pequenas. Eu questionei ao menos esperar entrar em trabalho de parto e ele respondeu que “não via luz no fim do túnel” e que não valia esperar, falou que nunca perdeu um bebê por pós-data. Perguntei até quando ele já havia esperado, ele disse 40 semanas e 3 dias, mas que no meu caso pelo bebê estar alto a chance dele descer era muito pequena, que para ele a perda podia ser pequena, 5 ou 10%, mas para mãe era 100%.

Ele escutou os batimentos cardíacos e disse que estava desacelerado e que o bebê não reagia, falei que o bebê estava mexendo bem, ele disse que isto não significava nada, que ele retirou um bebê mecôniado com 38 semanas e estava mexendo bem.

Meu marido falou para olhar no ultra-som, ele olhou e falou que o bebê estava bem, falei de fazer Doppler e cardiotoco, e ele disse que não adiantava que daria tudo bem, falei que para mim faria diferença pelo menos entrar em trabalho de parto, ele disse que quem quer um parto normal geralmente não consegue. Falou se eu assinaria um termo de responsabilidade por esperar, eu disse que sim, eu sabia que o bebê estava bem, ele disse “... e se seu bebê morrer de hoje para amanhã de quem vai ser a responsabilidade” falei que minha, ele disse que o termo de
responsabilidade não faria diferença, que se saísse no jornal não faria diferença ele mostrar a carta assinada por mim.

Terminou falando que não esperava mais que se eu quisesse procurar a opinião de outro medico que esperasse mais porque ele não esperava. Perguntei se ele tinha alguma indicação ou se conhecia alguém que esperasse, ele falou que os médicos do SUS costumam esperar, ele questionou se eu não conhecia em São Paulo, disse que sim e pedi para ele escrever o que ele considerava motivo de cesárea num papel. Antes eu também questionei de induzir ele disse que não adiantaria e que nem adiantava fazer toque que o bebê estava alto.

Discussões em casa
No caminha de casa o Coruja ficou muito exaltado, tivemos uma primeira discussão, ele queria que eu dissesse algo e eu falei que chegando em casa ligaria para a Márcia e para o Jorge e veria o que fazer, eu não sabia o que pensar.

Chegamos em casa ele saiu para esfriar a cabeça no bar de um amigo, liguei para Márcia que me acalmou muito bem, depois meu marido voltou para casa e falei para ele tudo que ela tinha me dito, ele disse que não queria que fosse mais em casa e ai começaram os questionamentos: ”está parecendo que você não quer este bebê aqui fora, ele pode estar aqui nos nossos bra
ços amanhã”, “está parecendo que o parto é mais importante que o bebê.” Minha irmã que teve que fazer cesárea disse: ”Eu sei o que você está sentindo, eu também passei por isto e fui para São Paulo com a esperança do medico falar que podia esperar, mas teve que ser para mim foi um choque!”

Falei que ia para São Paulo que não ia fazer cesárea sem ao menos tentar um parto normal. Ele disse que não queria que eu fosse, que fosse em casa mesmo então e se acontecesse algo que eu fosse para o SUS. Mas com tudo isto eu também fiquei u pouco insegura, tinha medo de o medico estar certo.

Minha irmã sugeriu que fosse ao medico dela, Dr. Geraldo, que não é cesarista e não é também humanista, seria um meio termo, uma terceira opinião, pois meu marido dizia que o Jorge ia dizer o que eu queria ouvir, que ele era uma boa pessoa tinha uma aura ótima, estávamos na varanda e neste momento a luz que estava com defeito (hora acendia hora não) acendeu, olhamos um para cara do outro e demos risada, foi uma boa descontração momentânea e ele “falou uma aura forte mesmo!”

Neste ponto os ânimos já estavam mais baixos e ele falou que estava preocupado, eu falei que sabia que estava tudo bem, falei que então íamos para São Paulo no Dr. Geraldo e no Jorge. Ele questionou se o Dr. Geraldo dissesse que tinha que ser cesárea, o que eu ia fazer se ainda ia no Dr. Jorge para ouvir o que eu queria, se ia confiar mais no Jorge contra a indicação de dois médicos, falei que não sabia, que íamos ver o que ele ia falar.

Por telefo
ne o Dr. Geraldo disse que pelo que o outro medico havia dito, se estivesse tudo certo, teria que ser, mas que ele não podia dizer por telefone, teria que me examinar.

Consultas em São Paulo
Fomos para São Paulo na terça, dia 13, fomos da rodoviária direto para Dr. Geraldo, ele disse que estava tudo bem, que hoje em dia os médicos não costumam esperar mais que 40 semanas mesmo, mas que daria para esperar tranqüilamente até dia 22 (41 semanas e uns dias)
monitorando o bebê, que se então não mudasse a situação ele sugeriria indução, mas que poderia mudar completamente de uma hora para outra.

Fomos então direto do Dr. Geraldo para o Dr. Jorge, que também falou que estava tudo bem, ele sugeriu esperar até 2°, dia 19, e ver se tinha dilatação se tivesse fazer um descolamento de membrana, que acaba induzindo o parto, se não fazer uma indução com hormônio. Ele falou para fazer um ultra-som e uma cardiotocografia no sábado ou na segunda, eu completava 41 semanas no domingo.

Fiquei muito tranqüila, pois até as minhas malas eu fiz mal feita pois achava que talvez tivesse que voltar, pois tínhamos decidido que se fosse ter que ser cesárea faríamos em Piracicaba pelo convenio, com o Dr. Carlos mesmo . Eu confiava no Dr. Carlos, que ele não mentiria, mas não confiava ao ponto de fazer uma cesariana sem ao menos tentar. Não sabia quando ia vir ou o quanto iria esperar, mas pelo menos tinha a chance de poder continuar a tentar e se não fosse possível, tudo bem, fazer o que, mas tudo daria certo de qualquer forma.

No dia seguinte fomos fazer a inscrição no hospital. Decidimos deixar os exames para segunda, pois o Coruja iria voltar para Piracicaba para trabalhar no final de semana e já teria voltado para ver o ultra-som, qualquer coisa era só ligar que ele vinha correndo!

Trabalho de Parto e Parto
Domingo de manhã, dia 1
8, soltou um pouco de tampão, que continuou soltando até umas 14/15h, às 17h comecei a ter contrações com cólicas a cada 20 min, não consegui dormir, só conseguia tirar uns cochilos entre as contrações, fiquei bastante na banheira e lá ficava mais fácil da cochilar. Fui ao mercado lá pelas 21h e acho que foi minha ultima refeição quando cheguei em casa depois só fiquei nos sucos até depois do parto.

Segunda-feira de manhã fui fazer os exames, na cardiotoco o bebê resolver dormir uns 20 min, o que me deixou preocupada, mas logo ele acordou e não parou mais de mexer. Tudo OK, voltamos para casa e as contrações mais próximas, de 9 em 9 min, mas já era comecinho de tarde e tinha consulta no final da tarde ás 19h, então resolvi esperar pela consulta, afinal as contrações estavam bem toleráveis.

Fomos à consulta, não estava bem disposta para ir a pé, contrações de 8 em 8 min, o Jorge perguntou como eram as dores descrevi, eram só cólicas com as contrações, na parte da frente, sem dor nas costas, ele disse que devia ser falso trabalho de parto, ai pensei se eu não consegui dormir, estou cansada, sem fome, só tomando suco e com esta dorzinha chata e ainda não é nada imagina só quando for.

O Jorge explicou então como faria o descolamento de membrana, conforme havíamos combinado, se eu tivesse alguma dilatação, ele fez o toque e falou que estava super feliz, que eu estava com 5 para 6 cm de dilatação, me deu uma sensação de até que enfim e ainda bem que esta dorzinha não é só nada, ele perguntou se preferia passar em casa para pegar as coisas ou ia direto para o hospital, fomos para casa.

Pareceu que depois do toque as contrações ficaram mais fortes, fui para casa tranqüila, mas foi ficando mais intenso e já não era mais qualquer posição que ficava confortável, inclinada para frente pareceu ficar mais confortável. Esperar meu pai se arrumar para irmos para o hospital começou a me deixar impaciente e o caminho para o hospital pareceu uma eternidade, parecia que o motorista dirigia de modo brusco (depois perguntei e meu marido disse que o motorista estava dirigindo normal).

No hospital já estavam 3 contrações a cada 10 min, estavam suportáveis, mas eu estava começando a ficar ansiosa e agitada, eu queria tirar minha roupa e ir para debaixo do chuveiro. Q
uando deixaram entrar para o quarto foi a primeira coisa que fiz, neste ponto as contrações já estavam mais intensas e eu não queria mais conversar nem pensava em mais nada, fiquei de quatro no chuveiro. Neste ponto já não sei dizer o quanto ou como doía, parecia que eu estava concentrada em algo que me tirava do mundo.

Em dado momento não quis mais ficar no chuveiro, fui para cama, fiquei de frente para o encosto, de quatro. Depois fui para o banquinho de parto, quando eu estava no banquinho tinha hora que eu me puxava na porta do armário que estava atrás de mim, amararam em outro lugar alguma coisa para eu me pendurar, a principio eu quis, mas quando vinha outra contração, já não quis e preferi ficar onde estava, depois voltei para cama.

Cada vez mais intenso, eu estava muito cansada e só pensava em dormir tentava me encostar entre as contrações, mas não dava tempo, eu já estava fazendo força, mas parecia que as coisas não saiam do lugar, não evoluíam e eu só queria dormir um pouco. Neste ponto comecei a pensar em anestesia, mas ao mesmo tempo tentava resistir, passava pela minha cabeça que o anestesista já estava pago, estava incluso no pacote, era só eu pedir, não sei quanto tempo levou esta conversa comigo mesma, mas acabei pedindo anestesia.

Meu marido tentava me fazer resistir, mas como me dava raiva ela falar para eu esperar só mais um pouquinho, pensava ‘o que você está se metendo, não é da sua conta se eu quero anestesia, eu sei que eu queria conseguir sem, mas se eu mudei de idéia não se meta’. O Jorge sugeriu ver a quantas andava e dar buscopam, mas para fazer o toque eu tive que deitar de barriga para cima, que tortura parecia que doía muito mais.

Eu já estava com 9 cm, mas para mim pareceu que faltava muito ‘ainda 9cm, o bebê já devia estar saindo’. Ele sugeriu romper a bolsa, rompeu e deu buscopam, na hora passava pela minha cabeça ‘seus filhos da P, vocês estão me enrolando’, ao mesmo tempo em que eu queria agüentar xingava todo mundo na minha cabeça por achar que estavam me enrolando, falaram que iam chamar o anestesista.

Não me lembro como foi a ordem das coisas só tenho flash entre as contrações. Começou a doer muito parecia que eu ia estourar e uma ardência, a Márcia perguntou ao Jorge se ele havia feito toque, comecei a gritar que estava doendo muito, o anestesista chegou, mas o bebê já estava saindo, quando vi esta evolução já não queria mais anestesia, porque eu não queria só pela dor, mas porque estava cansada, quando vi que estava nascendo que logo ia acabar, parece que tive mais forças para continuar. Alguém disse que o anestesista tinha chego e outra pessoa falou que não precisava, falou para ele ir embora.

Lembro de gritar que estava doendo e da Márcia dizer que o ardor era normal era o bebê que estava saindo, eu queria mudar de posição, mas quando a contração veio mudei de idéia, o bebê saindo parece que você vai explodir, rasgar, sei lá.

Quando apareceu o cabelo lembro de alguém dizer que dava para fazer uma chuquinha, de tão cabeludo depois alguém falou que chuquinha era chuquinha era coisa de mulher, que podia ser um topete.

Falaram para eu parar de fazer força para não me machucar, ai saiu a cabeça, depois voltar a fazer para sair o corpo, o bebê nasceu! Dá uma espécie de alivio, mas continua o ardor. Virei, perguntei se estava tudo bem, pois ele parecia meio molinho, o colocaram no meu colo, levaram depois para pediatra. Vi meu marido olhando para o bebê e chorando sentado em algo. Queria saber se eu estava machucada, pois a sensação era de que sim. A placenta estava solta falaram para eu fazer força novo ardor para ela sair. O Jorge explicou algo sobre a placenta para o meu marido, não me lembro o que, acho que falei que era igual a dos cachorros, mas não tenho certeza se falei posso ter só pensado.

Para me examinar, para ver se havia me machucado, também ardia e doía não sei ao certo. Não havia nenhum ferimento, voltaram com o bebê para o meu colo, tentei dar de mama, mas estava tão cansada, eu que tinha pensado que quando nascesse não ia querer soltar nunca só pensava em dormir, passei para o colo do pai, que ficou todo feliz, recostei e dei uma dormida, vendo apenas parte do que acontecia, subiram o bebê para o berçário, quis tomar uma ducha depois deitei novamente para esperar me levarem e a espera para eu subir pareceu uma eternidade, de repente bateu uma baita de uma fome meu irmão veio me ver e estava trazendo um pacote de bolacha para o meu marido comi metade. Levaram-me para o quarto, levantei duas vezes para fazer xixi, pois não fazia desde que chegara ao hospital, e dormi.

O Elias nasceu as 2h02 da terça-feira, dia 20/12 com 51,5 cm e 3440 g.

A pior parte não é a dor é o cansaço, duas noites sem dormir, assim que tudo acabou foi a única coisa que pensava em fazer. Valeu a pena, depois ficou ardendo, mas depois, ainda no primeiro dia já era só um incomodo.

Vale muito a pena, é uma experiência maravilhosa.